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3 de jan. de 2011

Gracias a la Niña


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"Os bandidos tornam anacrônica uma significativa obra de arte dos anos 60, de Helio Oiticica, um cartaz que mostrava os dizeres: “Seja Marginal, Seja Herói” -- Tony Belloto

Estou aqui, no Rio, me sentindo como Ernest Hemingway na Paris libertada em 1944, nos confrontos finais da segunda guerra mundial. Um dos grandes feitos de Hemingway na ocasião – que sim estava presente na libertação de Paris, como membro do exército americano, fardado e tudo – foi “libertar” do jugo nazista a adega do restaurante do hotel Ritz, e promover uma esbórnia histórica, que durou alguns dias.

Claro, não estou cogitando adentrar as vielas do complexo do Alemão, fardado de membro do BOPE, para promover uma festança com as drogas apreendidas. Claro que não. Primeiro porque eu não uso mais drogas, todo mundo sabe. Segundo porque, ao contrário da bebida, as drogas são proibidas e por isso mesmo compõem o esteio e fonte de renda principal do crime organizado.

É claro que como qualquer cidadão carioca e brasileiro, estou vibrando com a conquista do complexo do Alemão. É por isso que me sinto como Hemingway, exultante com a vitória da liberdade e da democracia sobre a violência arrogante dos fora-da-lei. Estou me divertindo com a imagem dos bandidos fugindo desmoralizados, como ratos desesperados. Rio da história do bandido assassino que mijou nas calças ao ser preso. Do que precisou da companhia da mãe para se entregar. Os bandidos não demonstraram nenhuma honra, nenhuma coragem, nenhuma hombridade nos confrontos. Perderam a admiração de milhares de garotos – ainda bem – agora fãs dos heróicos policiais e soldados que fizeram um trabalho exemplar – com muita coragem – sem vítimas e com baixíssimo índice de derramamento de sangue.

Enquanto os meninos do morro se divertem nas piscinas dos chefões do tráfico, os bandidos tornam anacrônica uma significativa obra de arte dos anos 60, de Helio Oiticica, um cartaz que mostrava os dizeres: “Seja Marginal, Seja Herói”, numa referência ao bandido Cara de Cavalo, morto pela polícia naquela época. O herói de hoje – ainda que um bocadinho marginal, pois não deixa de desafiar o “sistema” – é o capitão Nascimento, comandante do BOPE nos filmes Tropa de Elite I e II.

Estou orgulhoso e feliz, sim. Mas me pergunto, sem querer ser chato, se essa operação não poderia ter ocorrido antes. Muito antes. Há dez, quinze anos. Por que não ocorreu? Bem, antes tarde do que nunca. Outra questão, que vem a calhar, sem dúvida: e se as drogas leves (maconha) fossem liberadas, não haveria uma diminuição natural do poder dos bandidos? Bem, são só perguntas. Estou feliz, e devo liberar minha própria adega para uma comemoraçãozinha particular – sintam-se convidados. E graças à Niña, o fenômeno meteorológico no oceano Pacifíco que permite dias de temperatura branda em novembro, caminho contra o vento com uma inusitada sensação de liberdade e segurança.

Filme…

… Tropa de Elite II – se é que você ainda não viu -, uma excelente radiografia da situação da segurança pública no Rio de Janeiro.

Tonny Belloto


3 de mar. de 2010

Rio de Janeiro, 2007--2010: em guerra?

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por George Felipe de Lima Dantas
em 23 de novembro de 2010

Rio de Janeiro, 2007--2010: em guerra?

Luciano Phaelante Casales
George Felipe de Lima Dantas

"É claro e bem sabido que a única fonte da guerra é a política... A guerra é simplesmente uma continuação da política com a adição de outros meios". (Carl von Clausewitz)

A questão do enfrentamento "bélico" da criminalidade da cidade do Rio de Janeiro, como seria de esperar, vem assumindo contornos políticos. Isso acontece em uma moderna urbe brasileira em que organizações criminosas de narcotraficantes e de outras ilicitudes estão, desde algum tempo, instaladas em "áreas liberadas." Elas cometem seus crimes tirando vantagem do fato de estarem "incrustadas" em comunidades nas quais predomina a exclusão social. Existe todo um passado de omissões do Estado e da Sociedade Civil, interessados no usufruto político de tal situação ilícita ou até mesmo no consumo ilegal de drogas.

Isso está mudando e produzindo um questionamento político da não-aceitação, pelo Estado, da hegemonia territorial consentida a gangues ou facções de narcotraficantes. O questionamento, no caso, é feito em nome de valores democráticos justamente merecidos pela maioria da população civil e inocente do Rio de Janeiro. É como se a manutenção do próprio Estado Democrático de Direito e da plenitude de suas instituições pudessem ser desafiadas por alguma razão. Finalmente, representantes institucionais do Estado Democrático de Direito tiveram a coragem de admitir a existência de um nefasto "estado paralelo" e que ele precisa ser combatido.

Em estudo sobre o alcoolismo, a psicóloga Elenice Murta Galacini alerta que "negar o problema é um mecanismo de defesa que prejudica seu tratamento". Ao que parece, de forma semelhante, o Estado, no Rio de Janeiro, vinha nos últimos anos evitando um necessário confronto que viabiliza o início de um tratamento sério e responsável da questão.

A questão maior, entretanto, pode ser analisada de forma mais ampla e profunda do que a atualidade do problema aponta. Ela é marcada, principalmente, pelo sentimento de evitar um eventual dano físico e ao patrimônio de excluídos sociais e econômicos. Tais indivíduos, por força da própria configuração do "teatro de operações" do conflito, estão mesclados demograficamente e, por vezes, compulsoriamente (-fazer o que?), com criminosos que desafiam as instituições do país. Confunde-se e reafirma-se, assim, a própria estratégia posicional de existência do crime, com a razão de não reprimi-lo. As "balas perdidas" do Rio de janeiro, jocosamente referidas por alguns, mais seriamente são chamadas de "dano colateral" por analistas da situação.

São os inocentes, os "civis", aqueles que sofrem o chamado "dano colateral" no enfrentamento da criminalidade que desafia o próprio Estado na cidade do Rio de Janeiro. Destarte, o foco da questão pode ficar deslocado para algo que transcende o tempo e o espaço: 2007--2010 e Rio de Janeiro. O foco pode ser estabelecido genericamente na questão do "dano colateral" propriamente dito. Tal abordagem suscita definir "dano colateral", normalmente produzido por uma guerra.

Dano colateral denota dano alegadamente acidental, sustentado por civis e suas propriedades durante a guerra, resultante de ações que não violaram as "leis da guerra". Alguns acreditam que a expressão seja utilizada apenas como "eufemismo cínico", equivalendo ao que seria simplesmente a "morte de civis".

Na guerra existem "alvos", que podem ser: (i) "alvos militares legítimos" ou (ii) "alvos civis ilegítimos". Destruir "alvos civis ilegítimos" só não será "crime de guerra" se: (i) tal destruição não tiver sido prevista e ocorrer de maneira acidental, ou (ii) se tiver acontecido um dano mínimo em relação à destruição do objetivo militar pretendido.

Uma outra questão se levanta, neste ponto, em relação ao conceito de "guerra"... - Ora, mas o Rio de Janeiro está em guerra? - Declaradamente parece que não, já que não existe nenhum ato formal em que a situação lá incidente possa ser ortodoxamente declarada como tal. Assoma à discussão, destarte, uma outra questão ainda. - A guerra, em uma acepção mais ampla, poderia estar identificada com a situação prevalente no Rio de Janeiro?

Uma guerra pode começar em seguida a uma "declaração oficial de guerra", no caso de uma "guerra internacional", ainda que isso não tenha sido sempre observado, nem de maneira histórica nem contemporânea, tampouco no caso de "guerras civis". A declaração de guerra normalmente não é feita quando de guerras internas.

Já é lugar comum, há vários anos, a referência à situação do Rio de Janeiro como sendo de "guerra civil". A sensibilidade a esse tipo de "conhecimento", ou a origem de um senso comum generalizado em relação ao uso de tal expressão, talvez resida no fato de que as gangues ou facções de narcotraficantes do Rio de Janeiro, hoje em situação de enfrentamento direto ao Estado, utilizem:

(i) armas e munições de emprego militar (inclusive artefatos explosivos e "armas pesadas" contrabandeadas ou desviadas das Forças Armadas);

(ii) táticas de "guerrilha urbana" (incluindo o emprego oportunista, em relação ao ordenamento jurídico, de "soldados crianças e adolescentes"; bem como, as "balas achadas", técnica utilizada pelas facções criminosas durante os enfrentamentos, quando civis são alvejados propositalmente, como forma de agravar a pressão pela manutenção do "status quo";

(iii) ações de controle territorial que afetam a própria rotina da população, já sendo comum a determinação, pelo crime organizado, do fechamento de estabelecimentos comerciais e escolares locais.

Uma "Guerra Civil" é um conflito em que as forças em oposição pertencem ao mesmo país. A "guerra assimétrica" é um conflito entre duas populações de níveis drasticamente diferentes de poder militar. Este tipo de guerra freqüentemente resulta em táticas de guerrilha, utilizadas pelo oponente mais fraco, normalmente qualificado como 'conflito de baixa intensidade'. A guerrilha, em sua utilização de táticas em ambientes urbanos, ficou bem conhecida durante a bipolaridade internacional. Ela seria uma forma de "guerra assimétrica" travada entre forças desiguais, buscando o mais fraco alguma vantagem oferecida pelo ambiente urbano tridimensional.

O combate urbano, particularmente no Rio de Janeiro, em termos operacionais e táticos, é complicado e muito diferente do combate em outras áreas. Os fatores de complicação são devidos essencialmente à presença de civis e de edificações de toda sorte. Alguns civis são difíceis de distinguir dos combatentes, entre eles os membros de milícias e gangues, particularmente se tais civis estiverem tentando proteger suas residências. As formulações táticas passam a ser complicadas em um ambiente tridimensional, com uma limitação dos "campos de tiro" e de visão, ampliação das cobertas e abrigos para os bandidos (sob a infra-estrutura acima do solo) e, por último, mas não de menor importância, pela facilidade de posicionamento de armadilhas e de "franco-atiradores.".

É no contexto da guerrilha urbana e da tênue linha que separa o dano colateral da atrocidade, que reside o questionamento político da confrontação hoje empreendida pelo Estado no Rio de Janeiro. As autoridades da segurança pública local, finalmente, estão partindo para o enfrentamento, com um máximo de força possível. Estão atacando núcleos do crime organizado, para desmantelá-los, em meio a uma comunidade civil. Vidas civis estão sendo perdidas como ônus de uma estratégia ofensiva, decisiva, de enfrentamento agudo de um problema crônico. Na data do último enfrentamento (2007) foram dezenove mortes em meio a centenas de milhares de pessoas.

Por outro lado, há que considerar, também, o ônus de uma estratégia defensiva instrumentada por vidas civis. Na verdade, os bandos (facções) de organizações criminosas do Rio de Janeiro utilizam tradicionalmente os civis locais, fisicamente, como peças de "blindagem política", fazendo deles "escudos virtuais" para a manutenção da incolumidade de suas instalações e garantia da prática impune dos seus respectivos crimes. Isto claramente é uma violação das "Leis da Guerra", elaboradas, entre outras razões, para proteção da população civil.

A questão que se apresenta, em tal circunstância, é o cotejo moral da estratégia ofensiva, aguda e eventual, dos agentes do Estado, com a estratégia defensiva, crônica e habitual dos agentes do crime. Talvez a solução do impasse moral apresentado, em uma "situação de guerra", possa ser o recurso ao conceito de "Guerra Justa". Ele remete a questão de "fazer a guerra", ou não, para os seguintes argumentos:

1. - A guerra é travada realmente para evitar um mal maior?
- Como resposta ao caso concreto tem-se duas outras indagações:

O Estado Democrático de Direito só deve ser válido para uma parcela da sociedade brasileira?

- Ou, os moradores honestos, que habitam as comunidades afetadas pelo "estado paralelo" têm o direito de não ter suas vidas pautadas pelas regras dos narcotraficantes?

2. - Ela está sendo travada por autoridades legítimas do Estado?

- Não há dúvida de que são as autoridades legítimas do Estado, finalmente, que estão conduzindo os rumos do enfrentamento desse problema crônico.

3. - É sincera e verdadeira a intenção de buscar o Bem Comum por parte das autoridades que estão atuando ofensivamente?

- A demonstração de que o enfrentamento é parte de um plano que terá na sua consolidação ações sociais estruturantes que procurarão inviabilizar o retorno do "estado paralelo", ao que parece, denota a busca do Bem Comum e viabilização do convívio social saudável.

4. - A guerra é realmente o "último recurso"?

Analisando a situação atual do Rio de Janeiro, a realidade aponta que, para realizar qualquer atividade preventiva em prol da comunidade (educação, saúde e urbanização), isso só poderá ocorrer após o Estado "recuperar" as "áreas liberadas" dominadas pelos membros do crime organizado.

5. - Existe uma probabilidade razoável de resolução do problema ao final da guerra?

O "final da guerra" é apenas o primeiro passo que facilitará a entrada do Estado para resolver o problema da segurança pública nas localidades ocupadas pelas facções criminosas. O Estado precisa se fazer presente nas suas diversas modalidades de gestão. Para tanto, a primeira fase (enfrentamento do crime organizado) é necessária e imprescindível. Ao que parece, na segunda fase das ações do Estado, que vem sendo anunciadas pelas autoridades estaduais e federais, a busca de uma resolução estará mais próxima. Senão, voltar-se-á à estaca zero.

6. - Os danos produzidos serão superados pelos ganhos?

É quase que óbvia a opinião negativa acerca da justiça desse conflito para familiares e amigos dos atingidos pelos "danos colaterais". Eles incluem representantes do Estado mortos em combate (policiais e outros servidores públicos), membros da comunidade em geral, e mesmo parentes de membros do crime organizado que representam o "estado paralelo repressor."

Afora a verificação de fazer ou não a guerra, o conceito de "Guerra Justa" também pode ser aplicado a "como fazer a guerra quando ela tem de ser feita". Dois são os critérios para tanto:

Discriminação de meios: os meios para conduzir a guerra precisam ser escolhidos criteriosamente, em seu inicio, tendo como princípio a aceitabilidade moral. Mesmo com eventual benefício militar, alguns meios podem ser inaceitáveis. É o caso, por exemplo, do dano colateral que passa a ser genocídio.

Proporcionalidade de força: o dano produzido pela guerra precisa ser proporcional a sua causa. O "dano colateral" precisa ser limitado e, sempre que possível, evitado.

A atuação dos agentes públicos no Estado Democrático de Direito deve ser fiscalizada por todas as entidades representativas da sociedade. A utilização da força na primeira fase da resolução do grave problema do Rio de Janeiro deve sempre estar pautada pela repressão qualificada e proporcionalidade das ações de enfrentamento. As autoridades locais, nos dias correntes, parecem estar trilhando um caminho certamente difícil, duro, complicado, mas inevitável...

Luciano Phaelante Casales é Professor Doutor (General de Exército da Reserva do Exército Brasileiro), Coordenador para Assuntos de Defesa do Núcleo de Estudos em Defesa, Segurança e Ordem Pública (NEDOP) do Centro Universitário do Distrito Federal (UniDF) de Brasília. George Felipe de Lima Dantas é Professor Doutor, Coordenador para Assuntos de Segurança Pública do NEDOP/UniDF.

2 de dez. de 2007

O Capitão Nascimento é um "Plano-Inclinado"?

por George Felipe de Lima Dantas

O "Globo Online" e "O Globo" dão conta, em matéria divulgada em 30 de novembro de 2007, que "para leitores, urbanização de favelas não reduzirá a criminalidade no Rio". O primeiro dos dois órgãos midiáticos citados na matéria realizou uma enquete respondida por 1771 leitores sobre urbanização de favelas e seus efeitos sobre a criminalidade. Segundo aquela fonte, 60% dos leitores acreditam que as obras de infra-estrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) "não vão colaborar para a redução da criminalidade no Rio de Janeiro". Em outra conclusão da enquete do "Globo Online", 22,5% dos leitores teriam respondido afirmativamente sobre a questão de que "obras vão influir positivamente na questão do tráfico, desde que não se trate apenas da implantação de um plano-inclinado, medida prometida para a maioria das favelas beneficiadas pelo PAC".

Não é preciso grande digressão histórica para compreender que a verdadeira "massa" de favelas cariocas (são mais de 600 delas) "floresceu" pela impossibilidade de um grande contingente populacional ter acesso a moradias diferentes daquela configuração urbana desviante. Ou seja, o fenômeno é social, hoje com um grande alcance histórico decorrente das condições econômicas prevalentes no Estado do Rio de Janeiro por longo período de tempo.

Para reverter a "favelização" de boa parte da população carioca, há que mudar antes a própria economia do estado, compatibilizando os recursos humanos representados pela população excluída com o estabelecimento de uma "nova economia" local. Paradoxalmente, o Rio de Janeiro recentemente viveu um surto de retórica sobre uma chamada "nova polícia", supostamente capaz de reverter um "velho fenômeno" socioeconômico materializado no crime e na violência (?). É paradoxal, pois não parece que uma "polícia nova" (ou qualquer tipo dela...) tenha competências tais que possam reverter um fenômeno como os efeitos da favelização (e violência e crime decorrente dela e de fatores correlatos) que tem sua origem em causas que escapam completamente ao alcance da gestão da segurança pública.

Imaginar que a favelização possa ser mudada com investimentos de infra-estrutura nas próprias favelas, tampouco parece razoável. Para crer nisso seria necessário acreditar também que a água, por si só, pudesse mudar os efeitos socioeconômicos perversos da seca do sertão nordestino sobre aquela população local. Sabe-se dos investimentos econômicos vultuosos em novas regiões irrigadas do Rio São Francisco, mas que lograram apenas mitigar fenômenos econômico-sociais locais. Com as "favelas-bairro" não foi diferente. Apenas água não basta, assim como apenas plano-inclinado tampouco será suficiente. No plano da saúde, em um paralelo, seria como melhorar as instalações de hospitais especializados em enfermidades infecto-contagiosas, AIDS por exemplo, sem investir, contudo e principalmente, em pesquisa, desenvolvimento e distribuição de drogas de protocolos terapêuticos...

A despeito dos arrepios causados em alguns pela inesperada receptividade popular quase que unânime ao "capitão nascimento", ele é como a água chegando aos rincões sedentos do nordeste ou, quem sabe, o plano-inclinado instalado nas favelas cariocas. Mas nascimento, também, não basta... Sua popularidade, entretanto, é que, juízos éticos e legalidade à parte, o dito personagem ficcional "resolve o problema", ainda que lá a sua moda. Da mesma forma são amados (e muito...) os políticos locais que "cronicamente" fazem chegar água às localidades áridas do nordeste, ou mais modernamente, as autoridades do Rio de Janeiro por "fazerem chegar acessos inclinados" (vale o "lá a sua moda" para todo lado...).

O que existe de sombrio em tudo isso é que as soluções apontadas são todas cosméticas, populares e espetaculares, quando sabemos que "atacam" problemas que demandam soluções pouco glamourosas, modestas e até mesmo "invisíveis" em um primeiro momento... Mas é assim que crescem as grandes nações, com ações políticas que investem no futuro e não na popularidade imediatista, investem com medidas sinceras, que não ganham quadros partidários para ninguém, e que só o tempo fará sazonar sua efetividade, eficácia e eficiência. São essas as medidas corajosamente tomadas por "estadistas inesquecíveis" e que assim entraram para a história (ao passo que outros apenas "passaram por ela"...).

Enquanto isso, servidores da segurança pública do Rio de Janeiro e da União perdem a vida, passantes recebem "balas perdidas", enquanto viceja poderosamente enraizado o tráfico de drogas ilícitas naquele estado e alhures (apenas um "caso de polícia"?). Se a água dos caminhões-pipa do nordeste e as "benfeitorias nas comunidades" do Rio de Janeiro são "novidades muito antigas", o capitão nascimento é a mais nova de todas as "antigas novidades" dessa república... Nascimento, ao personificar o "Estado em ação", sem dúvida, é uma "grande novidade". Mas ele também é a idealização de uma classe de raros prepostos do poder público que "mostram a cara" e, queiram ou não queiram alguns, desde muito tempo são conhecidos da população da "Cidade Maravilhosa" e do restante do Brasil. O filme e seu personagem central apenas ratificam um dado, talvez menos trágico, da realidade cruel da segurança pública: seja lá como for, existe um pedaço do Estado que está "guerreando a guerra".

BOPE, CB, DPF, GM, PC, PM e PRF são siglas de arquétipos de heróis interpretados na "realidade social" (não apenas no cinema...) por mais de meio milhão de agentes do Estado brasileiro que sabidamente matam e morrem todos os dias, em prol e junto com o restante de uma Nação massacrada pelo crime e pela desordem. Por isso tudo, nascimento é e sempre será um "sucesso popular". O "plano-inclinado", quem sabe...