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13 de jan. de 2010

ONU, Hispaniola e Haiti: algumas considerações sobre a participação brasileira na MINUSTAH -- Uma Missão de Segurança Pública? --



George Felipe de Lima Dantas*
Maio de 2004

"O Haiti é o país mais pobre do hemisfério ocidental. Pobreza, fome e morte andam de mãos dadas com a existência aqui. A vida, tal como nós a conhecemos, não existe nas vilas das montanhas haitianas. Sei que não podemos mudar a política, nem afetar a natureza turbulenta do governo desta nação caribenha. Mas, tocando uma vida, uma criança, talvez possamos passar uma mensagem de que as outras pessoas ainda se importam com eles, inspirando um pouco de esperança nos que sofrem em um mundo que, aos olhos deles, os esqueceu." [1]

INTRODUÇÃO

A conturbada história do Haiti, após sua independência da França em 1804, é indicativa dos sérios problemas por que passou (e continua passando...) o povo haitiano, talvez fruto de uma coragem e ousadia sem precedentes. Foram várias décadas para que a França reconhecesse a independência haitiana, período em que até mesmo a circulação comercial marítima do país (vital àquela época...) esteve seriamente prejudicada por antagonismos e ameaças de toda sorte.
Tem sido muito caro o preço pago pelos haitianos, homens e mulheres que, mesmo escravizados, ousaram, pela via da coragem da força e da força da coragem, libertar-se de um dos maiores poderes coloniais da história. A partir daí, a instabilidade passa a ser a tônica da política interna haitiana, num efeito clássico da cizânia produzida por agentes coloniais que continuam influindo, mesmo quando não governam mais. Os brancos franceses deixaram o Haiti, mas foram substituídos, em sua suposta hegemonia racial, por uma "elite mulata", produzindo um tipo de racismo dissimulado que até hoje perdura e dá causa a conflitos políticos internos que parecem não ter fim.

Os registros históricos apontam mais de cem nomes daqueles que ocuparam, de uma maneira ou de outra, o poder executivo nacional haitiano. Os títulos diferem, mas a função parece ser a mesma: presidentes, presidentes provisionais, membros de conselhos executivos, membros de conselhos de secretários de estado, membros de comitês revolucionários e outras tantas denominações. Isso tudo acontece em um período de tempo que vai de 1804 a 1957.

O ano de 1957 marca o início da fase mais conhecida do obscurantismo político do Haiti. A partir daí foram quase trinta anos com o país sendo governado pelos Duvalier, pai e filho (1957-1986). François Duvalier (o chamado "papa doc", numa alusão ao título de "doutor" de François) governou de 22 de outubro de 1957 a 21 de abril de 1971. Jean-Claude Duvalier (alcunhado de "baby doc") governou de 21 de abril de 1971 a seis de fevereiro de 1986, terminando deposto, rumando para um confortável exílio na França, país onde permanece até hoje.

A força quase mística da "dinastia Duvalier" sobre os haitianos pode ser parcialmente explicada pelo "poder do medo" projetado pelos "Volontaires de la Sécurité Nationale" (VSN) (Voluntários da Segurança Nacional), vulgarmente conhecidos como "Tontons Macoutes". Diante dos VSN o próprio Exército Haitiano tornou-se irrelevante... Já os "voluntários" gozavam de plena liberdade e autonomia, ao extremo da impunidade. Com a queda de Jean-Claude, a estrutura dos VSN foi desmantelada e vários deles foram forçados ao exílio ou julgados e condenados pela "justiça da turba", alguns chegando mesmo a ser linchados em praça pública.

Nos cinco anos seguintes a 1986 o Haiti teve oito chefes de estado, um deles por apenas algumas horas: Henri Namphy (dois anos), Leslie Manigat (pouco mais de quatro meses), novamente Henry Namphy (menos de três meses), Prosper Avril (quase um ano e meio), Hérald Abraham (um dia), Ertha Pascal-Trouillot (quase dez meses), Roger Lafontant (algumas horas) e novamente Ertha Pascal-Trouillot (um dia).

O sacerdote católico Jean-Bertrand Aristide, em sete fevereiro de 1991, torna-se o primeiro presidente haitiano constitucionalmente eleito em eleições democráticas em toda a história do país. Ainda assim, Aristide não logra completar sequer o primeiro ano de mandato. É deposto em setembro de 1991 por um golpe de estado liderado por Raoul Cedras, general do Exército Haitiano. Aristide lograria retornar ao poder apenas em 1994, depois de intensas negociações internacionais envolvendo a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização dos Estados Americanos (OEA), os governos da França e dos Estados Unidos da América (EUA) e o regime "de fato" de Raoul Cedras.

A tônica desses três anos de negociações foi a imposição de sanções econômicas internacionais sobre o país, agravando ainda mais a situação do já tão empobrecido povo haitiano. Um outro desdobramento importante da crise: a desmobilização das forças armadas haitianas. Literalmente, o país deixou de ter militares...

Aristide voltou a governar de 12 de outubro de 1994 a sete de fevereiro de 1996, completando o termo do mandato presidencial inicialmente interrompido. René Garcia Préval, aliado político de Aristide, o sucedeu, assumindo a presidência do país em sete de fevereiro de 1996 e o galardão de ser o segundo chefe de estado democraticamente eleito na história do país. Deixou o cargo ao terminar seu inteiro mandato em sete de fevereiro de 2001.

Aristide, reeleito com 92% dos votos, reassume a presidência em 7 de fevereiro de 2001. O segundo mandato de Jean-Bertrand não deixa de ser acidentado como o primeiro. Aristide tem de deixar o Haiti em 29 de fevereiro de 2004, por força de um exílio auto-imposto, alegando com isso tentar evitar um "banho de sangue" entre seus correligionários e opositores. Aponta também que a situação de crise seria fruto de um complô envolvendo forças conservadoras dos EUA e da França.

A natureza aparentemente caótica e personalista da cultura política do Haiti, somada ao estado de pobreza crônica da sua população, sugere favorecer uma sucessão histórica de déspotas, ditadores, golpes, deposições e assassinatos políticos... Dirigentes nacionais aparentemente populares, caso de Dumarsais Estimé (1946-50), François Duvalier (1957-71) e o próprio Aristide, em uma espécie de "determinismo político maldito", parece que terminam por rejeitar o "império da lei" para governar sob a égide de suas próprias vontades, impulsos pessoais e aliados. Mas também parece que o povo haitiano tenha seus próprios limites de tolerância para com esse tipo de fenômeno político tão previsível naquela parte do mundo. A revolta popular violenta, sempre recorrente, talvez seja a via considerada mais efetiva, pelos haitianos, no sentido de promover mudanças consideradas impossíveis por outros processos...

A ONU NO HAITI DE 2004

Em 30 de abril de 2004 o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprova, por unanimidade, a criação da Missão de Estabilização do Haiti (MINUSTAH). A missão é planejada para ter uma duração inicial de seis meses. É também divulgado que caberá ao Brasil prover a chefia da futura missão, instalada no mês de junho de 2004, bem como constituir o maior contingente nacional de "boinas azuis" (1.470 militares, de um total de 6.700), dentre os vários contingentes militares parte dela. A missão também contaria com 1.622 elementos adicionais, aí incluídos policiais e administradores. Ainda que o Secretário-Geral da ONU propusesse uma duração inicial de 24 meses para a missão, o Conselho de Segurança, sob influência dos EUA, estabelece que a MINUSTAH tenha uma duração de seis meses, prorrogáveis de acordo com a situação.

Nos termos da mesma Resolução 1542 do Conselho de Segurança, a missão tem como propósito básico a reconciliação nacional e o retorno do Haiti ao regime democrático pleno. Para tanto, a MINUSTAH deverá assegurar as condições internas necessárias, tanto em termos de estabilidade política quanto de manutenção da ordem pública. De acordo com a resolução, a missão também deverá proporcionar o necessário suporte para a consecução de eleições gerais, livres e justas, a serem realizadas no mais curto espaço de tempo. Ela também deverá auxiliar o atual governo de transição a desarmar grupos beligerantes ainda existentes, proteger os Direitos Humanos, reestruturar a Polícia Nacional Haitiana ["Police Nationale d'Haïti" (PNH)], bem como restabelecer a ordem pública hoje gravemente ameaçada.

Uma missão de "segurança pública", portanto de natureza única, no contexto clássico das "missões de paz" da ONU? - Cabe uma reflexão do quanto a corriqueira segurança pública toma de dimensão, nos dias atuais, principalmente na região que corresponde ao Caribe e América Latina...

A MINUSTAH irá substituir um contingente militar internacional de 3.600 membros ["Multinational Interim Force" (Força Interina Multinacional)], liderado e composto basicamente por norte-americanos, secundados por tropas do Canadá, Chile e França. Tal força militar se encontra no Haiti desde fevereiro, de conformidade com a Resolução 1529 de Conselho de Segurança da ONU, realizando atividades essencialmente de manutenção da lei e da ordem e de sustentação das atividades humanitárias internacionais em curso no país.

Menos da metade da Polícia Nacional Haitiana (com efetivo de cerca de 5.000 elementos) retornou aos seus postos depois da saída de Aristide ao final de fevereiro. Tal situação se constitui em sério problema, já que o governo do país não tem podido restabelecer a ordem interna sem o concurso pleno e efetivo daquela instituição.

O enviado especial da ONU ao Haiti, Reginald Dumas, recentemente declarou: "talvez seja necessário um prazo mínimo de vinte anos para que o país atinja a paz e possa assim melhorar o padrão de vida da população." [2] Segundo Dumas, as missões internacionais anteriormente estabelecidas no Haiti, cerca de dez, não foram bem-sucedidas em virtude de sua curta duração.

A ILHA HISPANIOLA E O HAITI

Onde há escravos, há açoite; onde há açoite, há ódio; onde há ódio, é fácil haver vingança e crime. (Manuel Bernardes)

O Haiti, com mais de 8,3 milhões de habitantes (aproximadamente a população de Pernambuco), é hoje a nação mais pobre do continente americano (PIB de 3,7 bilhões de dólares, aproximadamente o do estado do Maranhão). A maior parte da sua população (cerca de 80%) vive em estado de pobreza absoluta, situação social e econômica agravada pela alta incidência de AIDS, com 250 mil casos estimados (cerca de 5% da população está infectada por HIV). Existem duas línguas oficiais nacionais, o francês e o "creole", a última delas sendo falada pela maioria absoluta da população. Os francofonos mais facilmente compreendem o "creole" haitiano, mas ainda assim com alguma dificuldade. Não faz muito tempo o "creole" foi codificado em sua expressão escrita.

Haiti e República Dominicana repartem o território da ilha caribenha "Hispaniola" (situada entre as ilhas de Cuba e Porto Rico). O Haiti ocupa o terço ocidental da ilha (27.750 quilômetros quadrados, território equivalente ao estado de Alagoas), enquanto a República Dominicana (48.442 quilômetros quadrados, território equivalente ao Espírito Santo) está situada na porção oriental. A extensão da fronteira entre eles é de 360 quilômetros.

Haiti e República Dominicana tiveram suas histórias marcadas pela cultura resultante de economias coloniais centradas na agroindústria canavieira do Novo Mundo. Como em outros países da América Latina, o Brasil inclusive, nos dois países insulares foi feito uso intensivo de mão-de-obra escrava africana. A presença de grupos étnicos originários da África prepondera no Haiti (95% de negros), onde também existe uma chamada "elite mestiça" (5% de mulatos). Já a população dominicana (8,7 milhões), pouco maior que a do Haiti, é de expressão predominantemente miscigenada (74% de mulatos), muito mais do que propriamente africana (11% de negros) ou de origem européia (15% de brancos).

A relação entre os dois países é historicamente tensa, marcada por problemas raciais, o que na realidade esconde questões geopolíticas resultantes de um nacionalismo dominicano pautado por fortes antagonismos em relação ao seu único país vizinho. A séria questão racial local é particularmente intrigante para estrangeiros em contato com as duas nações, já que nenhuma delas é predominantemente branca... É na sutileza dos matizes do "tom de pele" que ficam materializadas diferenças dramáticas de percepção de identidade nacional, cultural e social. No "olhar dominicano", por exemplo, os haitianos de origem africana são chamados negros, enquanto os dominicanos da mesma cor e origem são tidos como "índios"... Tal construção do imaginário não está claramente visível para muitos recém-chegados a "Hispaniola", brasileiros inclusive.

A PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NA MINUSTAH

"Em um pequeno lugar as pessoas cultivam pequenos acontecimentos. Eles são isolados, ampliados, revirados várias vezes, sendo então assimilados na vida cotidiana, de tal maneira que num dado momento possam estar ou efetivamente estejam "na boca do povo". Para as pessoas desse pequeno lugar, cada acontecimento é um evento doméstico; elas não conseguem se ver em um contexto maior e não percebem que podem ser parte de alguma coisa encadeada. Não percebem nada assim. Se elas "enxergam algo, à distância", vindo em direção a elas, dizem: eu estou vendo uma coisa vindo na minha direção. Então elas sentem o evento como se ele estivesse caindo na cabeça delas, em seus ombros, o que faz com que caiam sob o "peso" e o enorme ônus que o evento representa. Ficam sem poder respirar nem pensar normalmente. E então dizem: essa coisa que só estava vindo na minha direção agora está por cima de mim... E vivem assim até que ao final absorvem o evento e ele passa a ser parte delas e do que são, com pessoas e eventos passando a estar integrados. Até que um outro evento aconteça e o processo inteiro comece novamente." [3]

Não será esta a primeira vez que os militares brasileiros estarão no Caribe em missão de paz. Um contingente do Brasil (FAIBRAS), juntamente com os de Costa Rica, Honduras, Nicarágua e Paraguai, integraram o "Batalhão Fraternidade", parte da chamada Força Armada Interamericana (FAI) instituída pela Organização dos Estados Americanos (OEA) para intervir na ilha durante a crise de 1965 na República Dominicana.

A crise dominicana foi desencadeada por um golpe militar em que Juan Bosch (reformista, membro do Partido Revolucionário Dominicano), eleito presidente em 1962, terminou deposto. Uma guerra civil quase reverte a situação em 1965, mas os EUA, liderando a FAI, ocupa a República Dominicana e neutraliza as forças favoráveis a Bosch. O forte viés dos interesses ideológicos norte-americanos dos anos da bipolaridade, materializado nas ações internacionais desenvolvidas na República Dominicana em 1965, fez com que a simples possibilidade de intervenções internacionais do gênero passasse a ser altamente questionada dali por diante, com a OEA tendo de arrostar um pesado ônus político desde então.

Diferentemente da situação de 1965, pode ser positiva a realização da MINUSTAH e a participação do Brasil nas ações diplomáticas internacionais que serão desenvolvidas no Haiti. A missão não é essencialmente militar, mas sim de segurança pública e manutenção da ordem interna... A indicação pela ONU de uma chefia brasileira pode ser interpretada como resultado de uma longa e cuidadosa estratégia política da diplomacia do Brasil, sistematicamente buscando posicionar o país como potência regional. Tal papel de liderança milita em favor da aspiração brasileira de participar permanentemente do Conselho de Segurança da ONU, ombreando com seus tradicionais integrantes (Estados Unidos da América, Rússia, China, Inglaterra, e França) e outros potenciais novos membros (Alemanha, Índia, Japão, etc...).

A missão dos brasileiros, certamente distinta, não deve ser tida, entretanto, como das mais fáceis... Em seus dois séculos de existência enquanto país independente, o Haiti já desafiou e superou a lógica etnocêntrica do colonizador europeu, a força bruta de elites, demagogos locais, e até mesmo articulações diplomáticas internacionais da grande potência continental vizinha--os Estados Unidos da América. Muito certamente, os norte-americanos tentarão exercer algum tipo de controle indireto sobre mais esta missão internacional no Haiti... Também deve ser levado em conta que a MINUSTAH acontecerá ao mesmo tempo em que os EUA enfrentam sérios problemas em função da ocupação militar que realizam no Iraque, bem como das violações de Direitos Humanos naquele país, frequentemente noticiadas pela mídia internacional. Também não pode deixar de ser levada em conta a atual situação eleitoral, em curso nos EUA, com republicanos (conservadores) e democratas (progressistas), construindo uma agenda de política exterior em que o Haiti sempre é citado.

Um outro problema a ser considerado são as condições locais em que os brasileiros irão atuar. A situação das tropas dos EUA, hoje estacionadas no Haiti, pode servir de parâmetro para o planejamento do emprego das forças militares do Brasil. Os norte-americanos estão acampados em vários locais do Haiti. Seus deslocamentos são sempre realizados "em comboios", com o equipamento individual básico de combate sendo de uso obrigatório fora das áreas de acampamento. As condições de vida, variáveis de acordo com cada local, podem ser consideradas como extremamente rústicas. O clima, incluindo chuvas torrenciais e furacões, deve ser levado em conta no planejamento operacional e logístico da missão. O Haiti está situado no centro do chamado "cinturão de furacões" do caribe.

Com todas as crises políticas e problemas econômicos que historicamente venha sofrendo, a nação haitiana orgulha-se do seu passado... O Haiti, de maneira única, desafiou, enfrentou e prevaleceu sobre o agente colonial francês, a partir de uma revolução de mais de meio milhão de escravos liderados pelo lendário Toussaint L'Ouverture, ele próprio um escravo. O dístico da bandeira haitiana, "L'union Fait la Force" (A União Faz a Força) não poderia ser mais emblemático de seu movimento de independência de 1804 e do espírito livre daquela nação... O Haiti é a segunda república mais antiga das Américas (se fez independente depois apenas dos EUA), sendo também a primeira república negra proclamada no mundo.

Considerando a penúria e tragédia que cerca "Hispaniola" e seus dois países, o contexto histórico e diplomático da atual crise haitiana certamente será um desafio para a habilidade política dos brasileiros. Esperemos que a história, desta vez, reserve um papel dignificado para a ONU, para a MINUSTAH e, decorrentemente, também para o Brasil.

Notas de Rodapé

[1] Campbell, Sylvia D., MD. One Small Miracle. Bulletin of the American College of Surgeons. October 1999, Vol. 84, pp. 16-21. http://www.healinggodschildren.org/previous/burned/miracle.htm Acessado em 1º de maio de 2004. (Tradução livre e adaptação pelo autor do presente artigo).

[2] Lederer, Edith M. U.N. OKs New Haiti Peacekeeping Mission. The Daily Item. Philadelphia: Daily Item Publishing Company. May 1. http://customwire.ap.org/dynamic/stories/U/UN_HAITI?SITE=PASUN&SECTION=INTERNATIONAL Acessado em 1º de maio de 2004. (Tradução livre e adaptação pelo autor do presente artigo).

[3] Kincaid, Jamaica. A Small Place. New York: Plume, 1988. http://muse.jhu.edu/journals/american_literary_history/v013/13.2chancy.html Acessado em 1º de maio de 2004. (Tradução livre e adaptação pelo autor do presente artigo)..

(*) O Professor Doutor (pela "The George Washington University") George Felipe de Lima Dantas é Coordenador do Núcleo de Estudos em Segurança Pública e Defesa Social (NUSP) da UPIS--Faculdades Integradas. Endereço para contato: NUSP/UPIS - CLSW 105 - Bloco "A" - Sala 130 - Setor Sudoeste - 70670-431 - Brasília, Distrito Federal. george02752@upis.br dantasgeorge@ig.com.br dantasf@hotmail.com consultoremsegpub@hotmail.com (061) 363-3618, 363-3931, 363-2821ou 92939594.

21 de set. de 2009

Relembrando 2006: o Haiti, a missão da ONU e as questões de ordem interna daquele país...







Fonte das imagens:

Fonte original do texto: http://br.dir.groups.yahoo.com/group/becerecos/message/316

MINUSTAH -- Rede Internacional BECE-REBIA

".....Se o Poder Executivo do país condicionou a participação brasileira no Haiti a uma ação de efetiva solidariedade política, social e econômica, com forte comprometimento internacional, primordialmente com a aplicação massiva de recursos, talvez tivesse sido melhor assegurar tudo isso antes do envio de brasileiros àquele país... O que hoje ocorre, com pequenas variações, já parece ser uma praxe quando de intervenções internacionais no Haiti, quase que invariavelmen tesimbólicas e de pouca ou nenhuma efetividade, haja vista o caos lá instado desde a saída do poder da sanguinária "dinastia Duvalier", instalada no poder de 1957 a 1986....

As promessas humanitárias de doação de cerca de um bilhão de dólares nunca se materializaram, com a criminalidade local continuando a ser o maior problema enfrentado pelos "boinas azuis" brasileiros, e de outros países que hoje estão desdobrados pelo país, o que não aparece compatível, absolutamente, com os ditames da Carta das Nações Unidas quando prescreve o emprego de militares em missões do gênero..."

"A crônica do desastre anunciado" – a participação do Brasil no Haiti

Por George Felipe de Lima Dantas

Referindo e parodiando o título da obra de Gabriel Garcia Marques, as últimas notícias da mídia em relação ao Haiti parecem mais um estágio da "crônica da morte anunciada", ao confirmarem o que vários especialistas na questão haitiana já haviam previsto quando do anuncio, em 2004, do decisivo envolvimento do Brasil na Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH). Tal Missão Internacional, que teve determinada sua instalação pelo Conselho deSegurança da Organização das Nações Unidas em abril de 2004, conta com significativa participação militar brasileira. Desde seu estabelecimento, sempre pareceu fadada a ser mais uma tentativa, questionável, de solucionar um velho e recorrente problema institucional haitiano, a violência associada ao processo político e ao funcionamento das instituições daquele Estado.

Como costuma acontecer no Haiti da ilha Hispaniola (tal qual na vizinha República Dominicana em 1965), a MINUSTAH já parecia, de início, um "remédio internacional" impróprio, porquanto apenas "simbólico", capaz mesmo de fazer deteriorar ainda mais a situação local, além de comprometer seus participantes, igual que outras iniciativas anteriores.

Isso inclui a intervenção internacional realizada no país vizinho, a República Dominicana, nos idos de 1965, sob a égide da Organização dos Estados Americanos (OAS), ação política com viés nitidamente marcado pelos interesses norte-americanos, iniciativa da qual até hoje aquela organização internacional se ressente, tendo por isso mesmo, desde então, de arrostar pesado ônus político e moral diante da comunidade de países da América Latina e Caribe.

Hoje, menos de dois anos depois de estabelecida a MINUSTAH, segundo notícia da Agência Reuters ("Brasil já busca forma de sair do Haiti", de 12 de janeiro de 2006), os brasileiros já estariam começando a buscar uma maneira de desincumbir-se de sua "honrosa participação majoritária" naquele esforço internacional, agora tido como pouco ou nada efetivo, para não dizer desgastante e comprometedor. A matéria aponta que, "nos quartéis, ministérios e no Congresso, os brasileiros começam a buscar uma forma de abandonar a turbulenta missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti".

Infelizmente, parece que a autocrítica de alguns membros do governo federal coincide com o que supostamente se atribui como causa do suposto suicídio do general brasileiro, comandante do componente militar da MINUSTAH. E será muito triste, para não dizer cruel, concluir que tamanha tragédia possa ter sido necessária para o reexame de uma questão tão "anunciada", por tantos, por tanto tempo e por tantas vezes anteriores.

São muito difíceis, não só nos dias atuais, como desde o estabelecimento daquela missão noHaiti, as condições de atuação dos "pacificadores" ("peacekeepers") brasileiros que tem estado atuando naquele pobre e sofrido país. Não faz parte, das gloriosas tradições dos militares brasileiros, nem fora nem dentro do seu país, atuar contra uma população civil desarmada, muito menos em guetos de exclusão social, onde a chaga da desigualdade pode ser tida como causa e conseqüência do crime, violência e barbárie, presentes neste tipo de cenário em diferentes lugares do mundo atual.

A mesma notícia da Reuters aponta que fonte brasileira, cuja identidade ficou preservada na matéria, teria declarado "não vemos um verdadeiro esforço internacional no Haiti, e a estrutura da ONU é confusa". Pior, a mesma fonte observa ainda "(...) ficando cada vez mais difícil entender por que estamos enviando tropas ao exterior quando temos tantos problemas com violência e traficantes de drogas aqui dentro".

Ora, era mais do que sabido que a MINUSTAH não poderia ter como missão precípua desarmar e desmobilizar grupos militares beligerantes sub-nacionais, sem ser a pedido deles próprios, no sentido de promover a reconciliação e reorganização das instituições nacionais ("institution building"), junto com o término, também consensual, de um conflito interno. É assim, classicamente, que uma missão do gênero é estabelecida e operacionalizada. Ao contrário, não há término, previsível, do secular conflito interno haitiano, tampouco um empenho local na reconciliação e reconstrução das instituições nacionais.

Assim, o conflito interno segue se desdobrando, com forte participação de grupos de delinqüentes locais, mormente sob a influência do tráfico de drogas ilícitas, situação que os brasileiros, tampouco nenhuma outra nação da região, sequer lograram ainda resolver internamente em seus próprios países...

Mas foi nesse contexto, absolutamente comprometedor para potenciais "mediadores internacionais", que o Brasil assumiu tamanha responsabilidade. Pior, enviando tropas militares regulares que tampouco estariam motivadas e preparadas, de acordo com velhas e odiosas tradições locais no Haiti, a empreender ações "do Estado contra a nação". Esforços semelhantes, no próprio Brasil, com a utilização de forças militares em "teatros de operações" semelhantes, caso do Rio de Janeiro, sensibilizaram profundamente a sociedade e as forças armadas do país, quanto à propriedade política de interferir em questões de "lei e ordem" com o uso do poder militar.

Aqui mesmo, noBrasil, ficou logo entendido, que isso seria comprometer, junto à nação, da imagem preservada e respeitável de suas instituições militares, com o exercício de atividades estranhas à sua atividadefim.

Daí resulta hoje, em boa hora, o estabelecimento de uma "Força Nacional", composta essencialmente por policiais brasileiros das várias unidades federativas, técnicos sazonados em questões de "lei e ordem", força que é hoje utilizada apenas em situações especialíssimas e com "regras de engajamento" mais do que claramente estabelecidas -- certamente "ao abrigo da lei".

Se o Poder Executivo do país condicionou a participação brasileira no Haiti a uma ação de efetiva solidariedade política, social e econômica, com forte comprometimento internacional, primordialmente com a aplicação massiva de recursos, talvez tivesse sido melhor assegurar tudo isso antes do envio de brasileiros àquele país...

O que hoje ocorre, com pequenas variações, já parece ser uma praxe quando de intervenções internacionais no Haiti, quase que invariavelmente simbólicas e de pouca ou nenhuma efetividade, haja visto o caos lá instado desde a saída do poder da sanguinária "dinastia Duvalier", instalada no poder de 1957 a 1986.

As promessas humanitárias de doação de cerca de um bilhão de dólares nunca se materializaram, com a criminalidade local continuando a ser o maior problema enfrentado pelos "boinas azuis" brasileiros e de outros países que hoje estão desdobrados pelo país caribenho, o que não parece compatível, absolutamente, com os ditames da Carta das Nações Unidas quando prescreve o emprego de militares em missões do gênero.

Novamente, tal qual em 1965 na vizinha República Dominicana, os membros das "forças de paz" parecem parte "dos músicos", de uma grande orquestração política norte-americana de suposta "legalidade internacional" e benemerência, capaz apenas de servir de pano de fundo e suporte moral da saída forçada do Haiti de seu presidente constitucionalmente eleito em 2001, com 92% dos votos, na pessoa do ex-sacerdote de orientação marxista Jean Bertrand Aristide.

A mesma comunidade internacional que, de 1991 a 1994, promoveu o retorno de Aristide ao Haiti, após haver sido constitucionalmente eleito e derrubado por um golpe militar em 1991, fazendo com que ele completasse seu mandato em 1996, parece hoje opinar em contrário, em um "double stantard" (duplo padrão) moral, semelhante ao que tipifica a própria alternância do poder norte-americano entre 1992 (Bill Clinton) e 2004 (George Bush).

Na mesma matéria da Agência Reuters, é mais que significativa a citação atribuída ao Deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, de que a missão militar, em sua participação brasileira "é um completo desastre, (já que) são tropas que não são capazes de fazerem nada pelo povo do Haiti e estão custando milhões de dólares ao Brasil". Agências noticiosas brasileiras reverberaram o mesmo tipo de percepção, caso da"Folha de São Paulo" de 12 de janeiro, com o título "Deixar o Haiti".

Está não é a primeira vez que militares brasileiros vão ao Caribe em missão de paz. Um contingente do Brasil (FAIBRAS), juntamente com os de Costa Rica, Honduras, Nicarágua e Paraguai, integraram o "Batalhão Fraternidade", parte da chamada Força Armada Interamericana(FAI) instituída pela Organização dos Estados Americanos (OEA) para intervir naquela mesma ilha durante a crise política de 1965 na República Dominicana.

Naquela ocasião, Juan Bosch (hoje falecido, político reformista, membro do Partido Revolucionário Dominicano), que fora eleito presidente em 1962, terminou deposto. Uma guerra civil quase reverte a situação da deposição de Bosch, mas os EUA, em 1965, liderando a FAI, ocupa a República Dominicana e neutraliza as forças favoráveis a Bosch.

O forte viés dos interesses ideológicos norte-americanos dos anos da bipolaridade, materializado nas ações internacionais desenvolvidas na República Dominicana em 1965, fez com que a simples possibilidade de intervenções internacionais do gênero passasse a ser altamente questionada dali por diante, com a OEA perdendo, em grande parte, sua credibilidade como organização internacional regional.

A missão militar da MINUSTAH, em 2004, seria diferente da FAI/FAIBRAS, em 1965, ao não ser essencialmente militar, mas primordialmente de promover a segurança pública e manutenção da ordem interna no sentido da reconciliação nacional, realização de eleições e volta à normalidade democrática.

A indicação pela ONU de uma chefia brasileira poderia ser interpretada como resultado de uma longa e cuidadosa estratégia política da diplomacia do Brasil, sistematicamente buscando posicionar o país como potência regional, e que de fato é. Tal papel de liderança militaria em favor da aspiração brasileira de participar permanentemente do Conselho de Segurança da ONU, ombreando com seus tradicionais integrantes (Estados Unidos da América, Rússia, China,Inglaterra, e França) e outros potenciais novos membros (Alemanha, Índia, Japão, etc...).

A missão dos brasileiros, entretanto, parece esbarrar nos interesses das mesmas forças políticas que tornaram possível que eles liderassem o contingente militar da MINUSTAH. Os norte-americanos continuam exercendo controle sobre mais esta missão internacional no Haiti...

Considerando a penúria e tragédia que cerca a ilha "Hispaniola" e seus dois países (Haiti e República Dominicana), o contexto histórico e diplomático da atual crise haitiana é um desafio para a habilidade política não só dos brasileiros, mas primordialmente da comunidade internacional como um todo, em seu apoio ao Haiti.

Conforme também citado na matéria da Agência Reuters, é extremamente oportuna a afirmação do especialista, Professor Nasser, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), de que o falecimento do General Urano Bacellar, na reflexão que supõe induzir tal tragédia, talvez faça com que os membros da ONU tenham de "de reconsiderar seu compromisso financeiro e a velocidade da reconstrução do Haiti depois das eleições de 7 de fevereiro". E Nasser conclui: "OBrasil precisa de apoio, dos EUA e da França em particular. Sem isso, tem de sair".

Laudo indica que Bacellar cometeu suicídio http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2006/01/060111_oeadeclaracaohaiti.shtml Bacellar foi encontrado morto no sábado em Porto Príncipe

O IML (Instituto Médico Legal) de Brasília divulgou nesta quarta-feira um laudo preliminar em que confirma que o general Urano Bacellar, comandante da Minustah, a Missão de Estabilização nas Nações Unidas no Haiti, cometeu suicídio.A assessoria de imprensa do Ministério da Defesa informou que o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, não foi informado sobre o resultado do laudo. O comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, não aceitou como definitiva a informação sobre o suicídio.

Ainda nesta quarta-feira, a secretaria-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos) divulgou uma declaração em que lamenta o ocorrido com o general Bacellar, encontrado morto no sábado em Porto Príncipe, e reitera o apoio ao Brasil no comando na Minustah.

"Recebemos com satisfação a apresentação pelo governo brasileiro de candidatos para a posição de Comandante Militar da Minustah. Incitamos fortemente todos os haitianos a apoiar e cooperar com a Minustah, com o Representante Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas e a Missão Especial da OEA (no Haiti)", afirmou a organização em sua declaração.

Eleição

Na mesma nota, a Organização afirma que concorda com a nova data que foi estabelecida para as eleições no país.

"Apoiamos totalmente a decisão tomada pelo Governo de Transição do Haiti e pelo Conselho Eleitoral Provisório (CEP) de promover o primeiro turno das eleições presidenciais e legislativas em 7 de fevereiro, com o segundo turno em 19 de março de 2006, em caso de necessidade. Estamos confiantes de que estas datas são realistas e tecnicamente possíveis e acreditamos que devem ser mantidas."

A OEA, em sua declaração também afirma apoiar os esforços realizados pelos parceiros internacionais, especialmente a Minustah e a Missão Especial da OEA para o Haiti, para dar ao Conselho Eleitoral Provisório a "assistência técnica, administrativa e logística necessária".

Para a OEA, um "ambiente seguro e estável é um ingrediente essencial para eleições legítimas".

"Neste sentido recebemos com satisfação a determinação renovada e o compromisso assumido pela Minustah de trabalhar junto com o Governo de Transição do Haiti para melhorar a segurança pública em Porto Príncipe."

A OEA afirmou, na declaração, que está de acordo com as recentes operações policiais e militares voltadas "ao combate de todas as formas de violência, incluindo os seqüestros, respeitando os direitos humanos e a legislação humanitária internacional".

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http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2005/09/050901_haiticg.shtml
General Heleno deixa o comando das tropas no Haiti O general Heleno (à dir.) foi elogiado pelo enviado da ONU (centro)

O general brasileiro Urano Teixeira da Matta Bacellar assumiu o comando da missão de paz da ONU no Haiti nesta quarta-feira, substituindo o general Augusto Heleno Ribeiro, também brasileiro.Heleno esteve à frente das tropas estrangeiras no país desde o início da missão, em junho do ano passado, cujo objetivo era ajudar na estabilização do Haiti depois da revolta civil que levou à queda do presidente Jean Bertrand Aristide, quatro meses antes.

Ele se despediu do cargo dizendo que as críticas que recebeu de que não teria feito o suficiente para combater as gangues armadas do Haiti foram injustas.

Mas o general negou que a sua decisão de deixar a missão, anunciada em junho, tenha sido motivada pelos ataques.

Medalha

As tropas da ONU no país têm enfrentado dificuldades para controlar a violência no Haiti desde a queda de Aristide.

O general Urano Teixeira da Matta Bacellar assumiu o lugar de Heleno em uma cerimônia em Porto Príncipe presenciada pelo enviado especial da ONU ao Haiti, Juan Gabriel Valdes, e outros diplomatas.

Valdes condecorou o general Heleno com uma medalha da ONU e lhe agradeceu pelo seu papel na "tarefa enormemente difícil" de levar estabilidade ao Haiti.

Heleno, por sua vez, agradeceu a sua família pela "força para superar críticas injustas" e elogiou o enviado da ONU por "seu apoio e amizade".

O novo comandante não se pronunciou durante a cerimônia, mas disse mais tarde a repórteres que ainda está aprendendo sobre o país.

Como havia afirmado em entrevista à BBC Brasil, Bacellar disse que vai procurar "seguir o trabalho e a missão do general Heleno".

O Conselho de Segurança da ONU estendeu o mandato da missão em oito meses, de junho deste ano a fevereiro de 2006. O general Bacellar vai herdar um contingente de 6.250 militares de 12 países, 500 a menos do que o total de alguns meses atrás. O maior contingente é brasileiro, de 1,2 mil militares.

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http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2006/01/060107_generalnotamp.shtml
Brasil quer que ONU apure morte de general O general Urano Bacellar foi encontrado morto neste sábado

O governo brasileiro pedirá que a ONU (Organização das Nações Unidas) conduza uma 'ampla' investigação sobre a morte do general Urano Teixeira da Matta Bacellar, segundo nota divulgada pelo Palácio do Planalto."O Presidente da República orientou o Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a manifestar ao Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, a expectativa do Governo brasileiro de que a ONU conduza imediata e ampla investigação sobre o assunto", diz a nota.

Bacellar, que comandava as tropas de paz da ONU no Haiti, foi encontrado morto neste sábado em seu quarto de hotel na capital do país, Porto Príncipe.

Representantes da ONU afirmaram que hipótese mais provável é a de suicídio, mas a força brasileira no Haiti disse que o general havia sofrido um "acidente com arma de fogo".
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General brasileiro estava 'tenso' com a situação no HaitiChileno vai assumir comando das tropas no Haiti

Equipe brasileira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também determinou que uma equipe brasileira se desloque imediatamente ao Haiti.

De acordo com a nota, os ministérios da Defesa, Relações Exteriores e Gabinete de Segurança Institucional irão coordenar as investigações sobre a morte do general do Brasil.

Bacellar assumiu o comando da missão de paz no Haiti em agosto do ano passado, substituindo o general Augusto Heleno Ribeiro Pereira.

O Brasil está à frente do contingente militar da Minustah (missão de paz da ONU no Haiti, na sigla em francês) desde a chegada das tropas ao país, em junho de 2004, quatro meses depois da queda do então presidente Jean Bertrand Aristide.

A morte do general ocorre um dia depois de o Conselho de Segurança da ONU ter exigido a realização de eleições no Haiti até o próximo dia 7 de fevereiro.

Leia abaixo a íntegra da nota da Presidência da República:

'O Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, manifesta seu profundo pesar pelo falecimento do General Urano Teixeira da Matta Bacellar. O General Urano Bacellar, conhecido por seu preparo e competência, vinha conduzindo com excelência e grande responsabilidade a difícil tarefa de comandar o Componente Militar da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH). O Presidente Lula estende os seus sentimentos aos familiares do General Urano Bacellar, neste momento de dor e tristeza.

O Presidente da República orientou o Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a manifestar ao Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, a expectativa do Governo brasileiro de que a ONU conduza imediata e ampla investigação sobre o assunto. Orientou, também, os ministérios da Defesa, Relações Exteriores e Gabinete de Segurança Institucional a coordenarem o acompanhamento pelo Brasil destas investigações e determinou que equipe dos órgãos brasileiros envolvidos se desloque imediatamente ao Haiti.

Por fim, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva reitera sua plena confiança no trabalho desenvolvido pelas tropas brasileiras no Haiti e reafirma a determinação do governo brasileiro de continuar apoiando o povo haitiano na construção da paz e normalização política daquele País.

Secretaria de Imprensa e Porta-Voz da Presidência da República'

>>>http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2006/01/060109_brasilmissaohaitidbfn.shtml
Brasil ainda não sabe se manterá comando no Haiti Denize Bacoccinade Washington Com a morte do general Bacellar (esq.) comando foi assumido por chileno O Brasil quer manter o comando das tropas da ONU no Haiti, mas ainda não recebeu nenhuma garantia da organização de que isso vai acontecer, segundo apurou a BBC Brasil nesta segunda-feira.Com a morte do comandante Urano Bacellar no último sábado, o comando interino dos 7,4 mil soldados da força de paz foi assumido pelo general chileno Eduardo Aldunate Herman.

Um diplomata da missão brasileira na organização disse que "há sinais" de que o comando brasileiro será mantido, mas frisou que o país ainda não foi comunicado oficialmente sobre essa intenção.

"Por enquanto as discussões ainda devem estar acontecendo internamente", afirmou.

Conselho de Segurança

O diplomata argentino Alberto Dalotto disse à BBC Brasil que o assunto não chegou a ser discutido na reunião desta segunda-feira do Conselho de Segurança da ONU e só foi mencionado quando ele próprio pediu que o órgão manifestasse em público as condolências à família do general Bacellar e ao governo brasileiro.

Ele diz que os outros membros do Conselho concordaram em apresentar as condolências, mas não discutiram a segurança no Haiti ou as eleições presidenciais do país, marcadas para o início de fevereiro.

Dalotto diz que a Argentina "apóia totalmente" a manutenção do Brasil no comando da missão, mas reconheceu que a morte do general Bacellar cria novas dificuldades numa situação que já era instável no Haiti. "É um retrocesso, mas acreditamos que a missão vai continuar seu caminho", afirmou.

A Argentina tem 564 soldados no país e é um dos membros rotativos do Conselho de Segurança, posição ocupada pelo Brasil no ano passado.

Ainda no sábado, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, havia dito que estava triste e chocado com a morte do brasileiro, mas não comentou a sucessão de comando.