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"Os bandidos tornam anacrônica uma significativa obra de arte dos anos 60, de Helio Oiticica, um cartaz que mostrava os dizeres: “Seja Marginal, Seja Herói” -- Tony Belloto
Estou aqui, no Rio, me sentindo como Ernest Hemingway na Paris libertada em 1944, nos confrontos finais da segunda guerra mundial. Um dos grandes feitos de Hemingway na ocasião – que sim estava presente na libertação de Paris, como membro do exército americano, fardado e tudo – foi “libertar” do jugo nazista a adega do restaurante do hotel Ritz, e promover uma esbórnia histórica, que durou alguns dias.
Claro, não estou cogitando adentrar as vielas do complexo do Alemão, fardado de membro do BOPE, para promover uma festança com as drogas apreendidas. Claro que não. Primeiro porque eu não uso mais drogas, todo mundo sabe. Segundo porque, ao contrário da bebida, as drogas são proibidas e por isso mesmo compõem o esteio e fonte de renda principal do crime organizado.
É claro que como qualquer cidadão carioca e brasileiro, estou vibrando com a conquista do complexo do Alemão. É por isso que me sinto como Hemingway, exultante com a vitória da liberdade e da democracia sobre a violência arrogante dos fora-da-lei. Estou me divertindo com a imagem dos bandidos fugindo desmoralizados, como ratos desesperados. Rio da história do bandido assassino que mijou nas calças ao ser preso. Do que precisou da companhia da mãe para se entregar. Os bandidos não demonstraram nenhuma honra, nenhuma coragem, nenhuma hombridade nos confrontos. Perderam a admiração de milhares de garotos – ainda bem – agora fãs dos heróicos policiais e soldados que fizeram um trabalho exemplar – com muita coragem – sem vítimas e com baixíssimo índice de derramamento de sangue.
Enquanto os meninos do morro se divertem nas piscinas dos chefões do tráfico, os bandidos tornam anacrônica uma significativa obra de arte dos anos 60, de Helio Oiticica, um cartaz que mostrava os dizeres: “Seja Marginal, Seja Herói”, numa referência ao bandido Cara de Cavalo, morto pela polícia naquela época. O herói de hoje – ainda que um bocadinho marginal, pois não deixa de desafiar o “sistema” – é o capitão Nascimento, comandante do BOPE nos filmes Tropa de Elite I e II.
Estou orgulhoso e feliz, sim. Mas me pergunto, sem querer ser chato, se essa operação não poderia ter ocorrido antes. Muito antes. Há dez, quinze anos. Por que não ocorreu? Bem, antes tarde do que nunca. Outra questão, que vem a calhar, sem dúvida: e se as drogas leves (maconha) fossem liberadas, não haveria uma diminuição natural do poder dos bandidos? Bem, são só perguntas. Estou feliz, e devo liberar minha própria adega para uma comemoraçãozinha particular – sintam-se convidados. E graças à Niña, o fenômeno meteorológico no oceano Pacifíco que permite dias de temperatura branda em novembro, caminho contra o vento com uma inusitada sensação de liberdade e segurança.
Filme…
… Tropa de Elite II – se é que você ainda não viu -, uma excelente radiografia da situação da segurança pública no Rio de Janeiro.
Tonny Belloto
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