15 de dez. de 2010

Brasil: o próximo alvo? -- Brazil: the next target?


Fonte da imagem: http://joemelle2.files.wordpress.com/2010/07/time_bomb.jpg

por George Felipe de Loma Dantas
em 15 de dezembro de 2010

Fonte:tradução livre para o português por George Felipe de Lima Dantas
Fonte Original: Jornal norte-americano "Washington Times", edição de 19 de setembro de 2005. Co-autores:George Felipe de Lima Dantas (Brasil) e Yonah Alexander (USA)

Quando a humanidade contabiliza mais um aniversário do 11 de setembro de 2001, data representativa da mais letal das operações terroristas da história, é possível recordar, também, de vários outros atentados perpetrados desde então, em nome de diferentes ideologias, agendas políticas ou "altos princípios" religiosos. Tal recordação inclui a vitimização de civis inocentes em Bali, Jacarta, Casablanca, Madri, Londres e Sharm-el-Sheikh.

Após o 11 de setembro, uma questão permanece e não quer calar: devemos esperar um atentado similar, em escopo e sofisticação, ocorrendo em algum outro lugar? – A resposta, curta e simples, é que sim. Isso certamente irá ocorrer e é apenas uma questão de tempo. A tarefa que se afigura, então, é buscar projetar onde poderá ocorrer, bem como o modus operandi correspondente.

Um rasgo desse futuro sombrio pode ser antevisto a partir das declarações de um porta-voz da organização al Qaeda, quando ele vaticina: "amanhã, Los Angeles e Melbourne". E que dizer do "depois de amanhã"? – Consideremos, por exemplo, o certame internacional representado pelos Jogos Pan-americanos de 2007, no Rio de Janeiro. -Será ele um alvo potencial "desse amanhã sombrio"?

O Brasil é a maior e mais populosa democracia da América Latina e tem sido poupado, ao menos até agora, da ocorrência de atentados terroristas. Ainda assim, brasileiros já foram mortos em ataques terroristas, tanto no caso das Torres Gêmeas de Nova Iorque quanto no do atentado contra a sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Bagdá. Os brasileiros mortos, em ambos os casos, simplesmente estavam no lugar errado na hora errada. A última dessas tragédias ocorreu em Londres, quando um cidadão brasileiro foi supostamente confundido com terroristas, sendo morto pela polícia britânica logo em seguida ao atentado contra o sistema de transportes públicos da capital inglesa.

Uma atitude brasileira bastante prevalente é negar sistematicamente a simples possibilidade de colocar a questão do terrorismo na agenda da política de segurança nacional ou de segurança pública, quiçá pelo receio de que isso possa "atrair um acontecimento do gênero". Tal premissa não tem fundamento, já que, após o 11 de setembro, nenhum país ou local pode ser considerado imune ao terrorismo. O Brasil, nesse momento histórico, se encontra em franco processo de enfrentamento da corrupção, em particular, por um lado, enquanto pelo outro trata de controlar a criminalidade de massa. Ainda que ele seja uma das maiores economias globais, sustenta altos índices de criminalidade, diferentemente de paises menores e mais desenvolvidos em termos políticos e sociais. Sua população, de certa forma, ficou acostumada a conviver com altos índices de criminalidade e violência.

Na zona sul do Rio de Janeiro, por exemplo, a beleza das praias locais pode esconder uma realidade bastante distinta... Algumas ruas dos bairros socioeconomicamente diferenciados da zona sul são compartilhadas por gente de classe média e moradores de comunidades carentes dos morros ao redor, constituindo hoje verdadeiras "zonas conflagradas" sob a ameaça permanente de narcotraficantes. Em tal contexto, na troca de tiros entre membros de gangues rivais e entre elas e a polícia, várias pessoas já foram mortas ao acaso, enquanto estavam dentro das suas próprias residências, em conseqüência de disparos do que se convencionou chamar "balas perdidas".

Enquanto isso, os presidiários cariocas continuam delinqüindo, até mesmo de dentro dos próprios estabelecimentos penais locais. Utilizam, para tanto, ao arrepio da lei, telefones celulares levados irregularmente para o interior das unidades prisionais. É assim que eles e membros de gangues, de fora das prisões, costumeiramente logram chantagear comerciantes e dirigentes de estabelecimentos escolares da cidade a fechar suas portas, sempre que delinqüentes locais são confrontados de alguma forma pelas autoridades policiais.

É digna de nota a expansão da relação entre o crime organizado e grupos terroristas, no tocante a atividades ilegais como narcotráfico, contrabando e lavagem de dinheiro. O estudo "Controle de Armas de Fogo e Produtos Correlatos", apresentado em 2005 a uma Comissão Parlamentar de Inquérito do Legislativo Federal, oferece um rasgo de visão acerca da crescente ameaça terrorista existente no país. Segundo tal documento, enquanto existiriam cerca de dois milhões de armas de fogo regulares no Brasil, outros vinte milhões delas estariam na ilegalidade. Talvez esta seja uma das razões pelas quais os criminosos cariocas ousem enfrentar abertamente os agentes da lei e da ordem...

A possibilidade de uma expansão, para o Brasil, do potencial de terrorismo existente na região da chamada Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai), intensifica ainda mais a preocupação com uma eventual ligação entre o terror e o crime organizado naquele local. A região é conhecida por vários delitos, incluindo narcotráfico, contrabando, fraude, lavagem de dinheiro e produção, transporte e comercialização de mercadorias pirateadas. Relatórios de Inteligência de diferentes fontes vinculam a Tríplice Fronteira com grupos como o Hamas, Hizballah e al Qaeda, os quais, sabidamente, já estariam operando em vários diversos países da América Latina e outras regiões globais.

O potencial para o estabelecimento de um vínculo colaborativo entre criminosos brasileiros e terroristas estrangeiros é hoje uma probabilidade tangível, muito mais do que uma simples possibilidade. Consequentemente, os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, podem representar uma oportunidade única para um atentado terrorista de autoria conjunta entre aquelas duas espécies de grupos de criminosos. Para minimizar tal probabilidade, o Brasil precisa planejar e implementar uma estratégia defensiva integrada minuciosa, com o concurso das diversas instituições de segurança pública do país.

Em primeiro lugar, é mister aprender com a história dos jogos olímpicos realizados nos últimos 30 anos, o de Munique (1972) inclusive. As estratégias de segurança devem incluir, necessariamente, um currículo padrão para as academias de polícia, de tal sorte que possa ser criado um programa também padrão de "treinamento de treinadores". Os conteúdos devem abranger, dentre outros temas, Inteligência de Segurança Pública e Análise Criminal e Mineração de Dados, sem olvidar exercícios de simulação de resposta a atentados.

Isso tudo implica, necessariamente, na disponibilização de recursos financeiros, pessoal, tecnologia e equipamentos, em um "pool" integrado internacional, regional, nacional, estadual e local.

Em suma, os desafios globais comuns da era que se segue ao 11 de setembro precisam ser enfrentados com vigilância contínua, bem como solidariedade e cooperação internacionais. Necessário lembrar o que Syrus Publius, mais de dois mil anos atrás, já apontava: "está mais resguardado do perigo aquele que permanece vigilante, mesmo quando já se sente seguro". Com tudo isso, como não poderia deixar de ser em uma democracia, o Brasil precisa equilibrar suas justas preocupações com relação a questões de segurança com os direitos e garantias individuais.

BRAZIL: THE NEXT TARGET?

By Yonah Alexander & George F. Dantas -- Washington Times 19SET2005

As the world marked another anniversary of September 11, 2001 representing the deadliest terrorist operation in history we recall there have been numerous attacks around the world over the last four years in the name of ideological, political, and religious "higher principles." Suffice it to mention victimization of civilians in Bali, Jakarta, Casablanca, Jerusalem, Madrid, London, and Sharm el-Sheikh.


The question arises repeatedly: Can we expect a similar attack in scope and sophistication elsewhere? - The short answer is definitely yes; it is only a matter of time. The task then is to identify the location and the modus operandi of such assaults.

A glimpse into the stark future is the just televised videotape by an American-born al Qaeda speaker, promising "tomorrow Los Angeles and Melbourne" will be attacked. And what about the day after tomorrow? Consider, for example, the 2007 Pan-American Olympic Games in Rio de Janeiro as a potential target.

Brazil itself, the largest and most populous democracy in Latin America, has thus far been spared similar barbaric attacks. However, Brazilians abroad at the Twin Towers in New York, and the United Nations headquarters in Baghdad were killed by terrorists because they were simply at the wrong place at the wrong time. The latest tragedy happened in London when a Brazilian citizen was wrongly killed by the British police following bombings of the city's transportation system.

A predominant Brazilian attitude refuses to place the terrorism challenge on the national agenda for fear of it will prove a self-fulfilling prophecy. This assumption is unfounded simply because no community, no country and no region is immune from terrorism after September 11, 2001.

Brazil has an ongoing battle against corruption and crime. Despite the country's rank as the world's eighth-largest economy, it suffers high crime rates. Brazilians have become accustomed to crime "next door." In southern Rio de Janeiro, beautiful beaches can deceive. Some Rio streets are shared by middle class and slum dwellers living in the surrounding hills, under the threat of drug traffickers. Hence, bullets fired often by rival gangs have killed people inside their own apartments.

Moreover, inmates go about "business as usual" inside the prisons, using smuggled cell phones. In Rio, criminal gangs blackmail local merchants and school officials into closing their doors when law enforcement confronts gang members.

Of particular concern is the expanding nexus between organized crime and terrorist groups in illegal activities such as drug trafficking, contraband, and money laundering. The study "Control of Firearms and Correlated Products" presented recently to a Brazilian Congressional Commission offers a glimpse of the growing criminal-terrorist threats. While there are only 2 million legally owned firearms in the country, some 20 million are illegally owned.

Thus, it is no wonder the gangs of Rio's slums can hold their own against law enforcement.

The possible terrorist "overflow" from the tri-border area between Brazil, Argentina and Paraguay aggravates this situation. This area is known for arms and drug trafficking, contraband, smuggling, document and currency fraud, money laundering, and manufacture and transportation of pirated goods. Various intelligence reports link the area with groups such as Hamas, Hizballah, and al Qaeda operating in some Latin American countries and elsewhere.

The potential for collaboration between Brazilian criminals and foreign terrorists is possible if not probable. Therefore the 2007 Pan-American Olympic Games in Rio might provide a unique opportunity for a joint terrorist attack.

To out-invent such an eventuality, Brazil should immediately consider developing and putting in place an integrated comprehensive defensive strategy with its law enforcement agencies. In the first place, lessons must be learned and carried out from the experiences of Olympic games over the last 30 years. Moreover, Brazilian public security strategies must be updated to include developing a standard curriculum for police academies, standardized training for instructors ("training for trainers"), intelligence and quality database mining, and simulation exercises. It is also necessary to supply law enforcement and military with necessary funding, personnel, technology and equipment ? using local, regional, national, and global sources.

In sum, the common challenges of the emerging post-September 11 era must be faced with continuing vigilance as well as international solidarity and cooperation. After all, Syrus Publius wrote some 2,000 years ago that "he is best secure from dangers who is vigilant even when he feels safe." However, as in any democracy, Brazil must balance credible security considerations and preservation of civil liberties.

Um comentário:

Renato disse...

Olá!
Agradeço por ter postado um texto tão interessante e atual.
Os jogos no Rio estão aí e espero que os setores de segurança estejam buscando treinamento e integração entre si. Essa é uma oportunidade para células terroristas agirem em nosso país.
Boa semana
Renato Buttes