26 de mar. de 2010

'Vagner Love e a Rocinha: está tudo dominado, e a culpa é das vítimas'


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Postado por George Felipe de Lima Dantas
em 26 de março de 2010

'Vagner Love e a Rocinha: está tudo dominado, e a culpa é das vítimas'

Autor: Luciano P. Garrido
(policial, psicólogo e especialista em segurança pública)

A recente celeuma em torno do jogador Vagner Love, que teria aparecido em público ao lado de traficantes armados, nos mostra mais uma vez - até a exaustão, vamos lá - a que ponto chegou a (in)segurança pública do Rio de Janeiro. Após a ampla divulgação das imagens na imprensa, a polícia resolveu mostrar serviço e, acreditem, convocou o craque para prestar esclarecimentos. Vagner Love, ao ser interpelado sobre os fatos, respondeu calma e sensatamente que suas idas à favela são eventos regulares, pois é lá que, segundo ele, estão suas raízes, seus amigos e onde, ademais, desenvolve trabalhos sociais. A sua justificativa é justa. O craque, assim como todo cidadão, quer exercer livremente o seu sagrado direito de ir e vir.

Mas vejam bem: quando um jogador do Flamengo sobe o morro, a coisa mais natural do mundo é ver torcedores se aglomerarem às pencas em torno do ídolo. Ora, a unanimidade em torno do futebol não poderia excluir os traficantes da Rocinha. Os criminosos são tão propensos à tietagem como qualquer outro torcedor, e jamais deixariam escapar a oportunidade de posar ao lado de seu craque favorito. Então, diante de um pelotão de fãs armados e perigosos, deveria Vagner Love cometer a indelicadeza de rechaçá-los, subtraindo-lhes os quinze minutos de glória rubro-negra? Não creio. Logo, não há razões para o jogador se penitenciar.

Quando traficantes armados usurpam impunemente os espaços públicos, quem deve explicações a quem? Deveria o atacante do Flamengo prestar esclarecimentos à polícia, ou deveria esta, em primeiro lugar, apresentar suas escusas à comunidade? Será que o cidadão inerme é responsável por tamanho descalabro? O jogador está montado na razão quando declarou: "isso aí é normal; qualquer favela que você for, hoje, no Rio de Janeiro, você vai ver isso". De fato: cenas como essas são de amplo domínio público, e impressionam na medida em que se tornaram banais e rotineiras. O mais lamentável, porém, é constatar que as autoridades públicas, sempre que pilhadas no vexame, tergiversam com as pantomimas de sempre, em vez de fazer o mea culpa.

Portanto, o caso de Vagner Love é mais do mesmo. Todo cidadão que reside na favela já está acostumado aos assédios constantes dos traficantes. Na total ausência do Estado, criminosos ditam regras, interditam ruas, constrangem moradores, aliciam jovens, decretam toque de recolher, aterrorizam, matam, esfolam e o escambau. Está tudo dominado. E a culpa é das vítimas.

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