18 de fev. de 2010

Segurança pública: Crime é combatido com análise de vínculo e algoritmo de voz







Fonte da transcrição: http://www.abin.gov.br/modules/articles/article.php?id=916

Crimes como tráfico de cocaína, lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos aparecem em organogramas montados pelas polícias Federal e Civil de Brasília. Os mapas, feitos por meio de programas de computador, que mais parecem emaranhados de informações, revelam detalhes importantes para a condução de investigações sigilosas. Os aplicativos têm a capacidade de traçar a ligação entre suspeitos e condensar informações levando à determinação dos autores desses crimes. É a chamada "análise de vínculo".

A identificação da voz de um criminoso com base em informações cientificamente válidas e capazes de condená-lo em um julgamento também é utilizada. O "algoritmo de voz" ou código computacional que identifica a voz de alguém para o computador reconhece características vocais únicas e já levou dezenas de pessoas para a cadeia.

O programa usado no DF por órgãos federais como o Senado, Procuradoria-Geral da República, Tribunal de Contas da União, Ministério Público e GDF, foi desenvolvido por uma empresa inglesa em associação com a famosa polícia de Londres, a Scotland Yard. Dona de 94% do mercado mundial de softwares de análise investigativa, a empresa i2 desenvolveu instrumentos para a solução de crimes e fraudes em instituições públicas e privadas, além de forças militares. O programa responsável pelos organogramas que definem quem são e como agem os membros das organizações criminosas é o Analyst's Notebook 6. É um software de análise visual que reúne, cruza e analisa dados por meio de diagramas de teias de relações. Usado em análises investigativas, transforma informações em esquemas gráficos baseados na relação entre criminosos e seus delitos.

Vários casos investigados no DF e no resto do País já contaram com a ajuda da análise de vínculo. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Senado, que investiga o escândalos dos Correios, usa a análise de vínculo para detalhar suposto esquema de corrupção.

O diretor-geral da empresa Tempo Real, Glauco Guimarães, que representa no Brasil a empresa que desenvolveu o software, disse que na CPI dos Correios já foram analisados mais de 77 milhões de informações. "O programa viabiliza uma capacidade que o ser humano não tem de traçar o vínculo entre dezenas de pessoas e milhares de transações bancárias", explica.

O software tem o aplicativo iBase 4, que permite acumular, analisar e exibir as informações de uma base investigativa. Caiu como luva na CPMI dos Correios, criada em maio de 2005 para investigar denúncias de corrupção. As engrenagens que movimentavam o esquema foram condensadas num banco de dados. E a análise de vínculos traçou relações entre os registros armazenados pelos investigadores.

Programa permite exibir, acumular e analisar informações Bandidos aterrorizados

Armas sofisticadas e o poder de fogo da polícia deixaram de ser a principal preocupação de grandes quadrilhas que faturam milhões com o crime organizado. As novas tecnologias a serviço da polícia já fazem a diferença da hora de identificar e mapear a ação de bandos criminosos. Usando o exemplo da descoberta de um detento que, de dentro da penitenciária, fazia ligações se passando por autoridades e extorquia cidadãos desta maneira, a polícia explicou como funcionam as perícias de identificação de voz feitas pela Polícia Técnico-Científica.

No programa de algoritmo de voz, os peritos fazem as análises partindo de gravações fornecidas pela polícia. Elas podem ser obtidas por interceptações telefônicas. O trabalho é feito com o uso do banco de dados de voz do programa da Polícia Civil e um aplicativo.

O software faz a análise das vogais pronunciadas na gravação e, também, das vogais pronunciadas pelo suspeito presente no banco de dados. O trabalho do perito, somado ao resultado do exame feito por meio do computador pode identificar o autor da gravação.

O estudo da voz e sua codificação digital é apenas mais um tipo de "registro digital normalizado" de expressões fisiológicas ou comportamentais da natureza humana. A voz, tal qual impressões digitais, topografia craniana e fundo do olho, entre outras "marcas" da identificação individual, pode ser codificada em algoritmos, instruções computacionais únicas para representar características, também únicas, associadas à identificação individual dos seres humanos.

Tecnologia policial na Operação Galileu

Um caso famoso no Distrito Federal também contou com a ajuda da análise de vínculo. A Operação Galileu foi uma das maiores ações policiais já realizadas pela Polícia Civil na capital da República. No dia 22 de maio de 2005, a polícia cumpriu mais de cem mandados de prisão expedidos pelo Tribunal de Justiça do DF.

Entre as prisões, 48 ocorreram no DF e nove em Mato Grosso, a maioria em locais onde se realizava o concurso público para agente penitenciário federal, elaborado pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe) da Universidade de Brasília (UnB). A investigação da Divisão de Combate ao Crime Organizado (Deco) começou em 2004 durante o processo seletivo da própria Polícia Civil. Era para ser um trabalho de prevenção, mas os agentes descobriram uma rede de profissionais (veja infografia ao lado) especializada em fraudes de concursos organizados por diversas entidades, principalmente o Cespe.

Segundo o diretor do Departamento de Atividades Especiais (Depate), delegado Celso Ferro, o poder tecnológico da polícia, que já contava com o software que determina a ligação entre suspeitos de uma determinada organização criminosa foi essencial para o sucesso da operação. "O programa ajudou a definir a participação de cada suspeito no esquema e até a quantidade de vezes que eles se comunicavam pelo telefone."

Para se ter idéia da funcionalidade do programa, um agente levaria dias para analisar calhamaços que fazem parte das listas de contatos telefônicos conseguidos com a quebra de sigilo telefônico dos suspeitos. "O software faz todo esse trabalho em poucos segundos."

Na Operação Galileu, os policiais coletaram provas de que, pelo menos, 12 concursos, em vários estados, foram fraudados pela quadrilha. Entre os acusados de participar do bando estavam 17 funcionários do TJDF, oficiais de alta patente da Polícia Militar do DF e de Goiás, e agentes da Polícia Civil brasiliense, além de outros órgãos do Poder Executivo. A análise de vínculo foi usada para traçar a conexão entre cada um deles.

No topo da cadeia do organograma montado no computador, apareceu Hélio Garcia Ortiz, então funcionário do Tribunal de Justiça do DF, como o líder da quadrilha. Em depoimento à época, ele disse que o esquema existia em, pelo menos, quatro estados: Goiás, Paraná, São Paulo e Mato Grosso. E confirmou a participação de funcionários do Cespe na fraude. O técnico judiciário Aléssio Alberto Gomes também apareceu na análise de vínculo como braço direito de Ortiz. Ele teria acesso a informações do Cespe. Dezesseis servidores acusados de fraudar o exame do Tribunal de Justiça do DF em 2003 foram afastados dos cargos.

FONTE: Jornal de Brasília
Publicado em: 03/09/2007

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