19 de fev. de 2011

Policiamento Preditivo


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Fonte da postagem: Correio Braziliense -- Segunda-feira -- 14 de fevereiro de 2011 -- "Opinião" -- Página 13

postado por George Felipe de Lima Dantas em 19 de fevereiro de 2011

Policiamento Preditivo
por George Felipe de Lima Dantas

O policiamento preditivo, objeto inclusive de matéria apresentada pela rede Fox News norteamericana no fim de 2010, representa a versão mais contemporânea de uma linha de filosofia de gestão da segurança pública iniciada cerca de 30 anos atrás com a chamada polícia comunitária.

Entre os conceitos de polícia comunitária e o de policiamento preditivo, estão, entre outras acepções dessa linha de gestão, as de policiamento orientado por problemas e policiamento guiado pela inteligência. O denominador comum entre todas elas, parece, é a integração de esforços entre a segurança pública e a comunidade. Tais esforços podem ser materializados na troca ativa de informações sobre o crime, criminosos e questões conexas, fruto da construção de um clima de confiança e respeito entre a comunidade e a polícia, com forte fundamento na filosofia e em valores da doutrina de direitos humanos.

O policiamento preditivo vem sendo apresentado na literatura pela máxima de “sentir e responder para prever e atuar”. Se a transposição entre responder e atuar marca uma superação da reatividade, algo por ser buscado em relação à proatividade tão fundamentalmente aclamada no contexto genérico do policiamento comunitário, já a transposição entre sentir e prever não parece tão óbvia e de entendimento tão contextual. De fato, o que parece existir de novo e diferencial, entre o policiamento preditivo e o policiamento orientado por problemas ou o policiamento guiado pela inteligência, é a tecnologia envolvida no processo correspondente de análise de dados para implementação do modelo considerado de gestão.

O salto qualitativo entre algo como o policiamento guiado pela inteligência e o policiamento preditivo está na maior antecipação proporcionada pelo último em relação ao primeiro (possibilitando atuar em vez de apenas "responder”). Tangivelmente seria como poder antever pontos quentes antes mesmo da sua constituição. Ora, se a localização espaço-temporal desses fatores adversos à segurança pública é determinável com o concurso de instrumentos tecnológicos, como a mineração de dados e a utilização de sistemas de informação geográfica, o que mais é possível, além disso? Previsão por intermédio da utilização de modelos probabilísticos que utilizam dados legados do passado e forte modelagem analítica operacional com base em tecnologias para projeção de cenários, já existentes em áreas aparentemente distantes da gestão da segurança pública, caso da epidemiologia médica, segurança bancária e inteligência financeira.

Um legado de dados e informações envolvendo expressões de situações e/ou comportamentos humanos fora da norma, pode servir para o estabelecimento de modelos de causalidade para coisas bastante díspares. Seria o caso em relação à enfermidade por surtos de pneumonia (epidemiologia médica), séries de fraudes (segurança bancária)ou artifícios específicos de lavagem de dinheiro (objeto de atenção da inteligência financeira).

É no atual contexto da tecnologia da informação (TI) que tais modelos preditivos estão sendo elaborados e materializados, com suas possibilidades de acerto sendo paulatinamente incrementadas em direção a um teoricamente possível, mas quase que certamente inalcançável 100% em termos práticos. Com tudo isso, a diferença probabilística entre o antes e o depois pode fazer a diferença entre responder e atuar.

Para a realização dessa polícia preditiva, estão hoje mobilizados talentos os mais diversos, inclusive com o apoio de recursos públicos, conforme vai apontado na matéria jornalística de referência acima. Tais talentos e recursos conjugam acadêmicos da área criminológica, caso de Paul Brantingham (pesquisador em criminologia ambiental e perfis de autoria e vitimização); respeitados experts da gestão da segurança pública, caso de William Bratton (executivo da gestão da segurança pública norte-americana em Los Angeles, Califórnia); reconhecidos protagonistas do segundo setor (a exemplo, a tradicional empresa SPSS da área de estatística); bem como órgãos e respectivas verbas de governo (caso do Instituto Nacional de Justiça dos EUA).

A bola de cristal sobre crime e violência é algo que ainda está por chegar ao Brasil, mas certamente não tardará.

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