8 de jun. de 2010

Medindo e descobrindo a “Pax Brasileira”

Fonte da imagem: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/15/Iraqi_boys_giving_peace_sign.jpg



por George Felipe de Lima Dantas
em 8 de junho de 2010


Medindo e descobrindo a “Pax Brasileira”

As medidas ou “métricas” estão muito em voga no mundo atual. Métricas ou índices (agregados de diferentes medidas) muitas vezes confirmam o que é percebido pelo senso comum -- outras vezes não. Existe uma premissa coletiva de que “O Brasil é um país pacífico”, com os brasileiros, explícita ou implicitamente, fazendo certa questão de acreditar nisso, propalando uma “pax brasileira” pelo mundo afora. De fato, isso apenas se confirma por conta de uma situação em termos de política e postura externa (“de dentro para fora”), já que o país não tem tradição de envolvimento em conflitos regionais ou internacionais. Mas os brasileiros gostam de mostrar a afabilidade como um “produto nacional”. – Será mesmo?

Surgiu uma nova medida no mundo internacional, surgiu o “Global Peace Index” (GPI) que traduzido significa “Índice Global de Paz”. O GPI é composto por 24 indicadores, provenientes de áreas diferenciadas como gastos militares, relações com países vizinhos e criminalidade. A democracia, transparência, educação e bem-estar material proporcionam algumas dessas “medidas da paz”. As fontes desses dados incluem o Banco Mundial e várias outras agências da Organização das Nações Unidas, abrangendo também outros dados resultantes da consulta a um grupo de “Inteligência Econômica” da organização “Vision of Humanity” – Visão da Humanidade, com sede na Austrália. A chamada “paz positiva” é finalmente quantificada, em sua contraposição a uma “paz negativa” que simplisticamente pode ser tipificada apenas como a “ausência de guerra”.

O estudo apresenta sustentação metodológica robusta e rigorosa, tendo apontados instrumentos de validação que apresentam clara correlação estatística entre suas descobertas. São abrangidos e hierarquizados, segundo o GPI, 121 países dos quase 200 atualmente existentes (possivelmente pela ausência de dados mínimos sobre toda a comunidade internacional). O Brasil ocupa a 83ª posição nessa “hierarquia da paz” entre os 121 países “ranqueados” por seu GPI. Algumas curiosidades: (i) os Estados Unidos da América (EUA) estão em 89º lugar, seis posições abaixo do Brasil; (ii) os mais bem posicionados, nas Américas, em ordem crescente, acima da posição do Brasil: Jamaica, México, República Dominicana, Peru, Bolívia, Nicarágua, Cuba, Paraguai, Argentina, Panamá, Costa Rica, Uruguai, Chile e, o melhor de todos, Canadá; (iii) os mais mal posicionados, nas Américas, em ordem decrescente de GPI, do Brasil para baixo: Equador, El Salvador, Guatemala, Trinidad Tobago, Honduras, Venezuela e, o pior de todos, Colômbia.

Os dez melhores do mundo (em ordem crescente): Áustria, Portugal, Canadá, Suécia, Finlândia, Japão, Irlanda, Dinamarca, Nova Zelândia e, o melhor de todos, Noruega. Os dez piores do mundo (em ordem crescente de “piora”): Angola, Costa do Marfim, Líbano, Paquistão, Colômbia, Nigéria, Rússia, Israel, Sudão e, o pior de todos, Iraque.

O estudo australiano também permite outras curiosas conclusões vis-à-vis seus dados constitutivos. Paradoxalmente, o “Brasil pacífico dos brasileiros” não é bem dos próprios brasileiros, tendo nos indicadores “de fora para dentro” seus pontos fortes como nação em paz: (i) ausência de participação em conflitos externos e mortes deles decorrentes; (ii) baixo efetivo e dimensão comparada de gastos militares; (iii) baixa participação comparada no comercio exterior de armamento militar; (iv) baixo potencial comparado para ações terroristas e; (v) bom nível de relações com as nações vizinhas.

No tocante ao “Brasil pacífico dos brasileiros”, tal noção fica desmistificada, já que os indicadores mostrados no estudo, “de dentro e para dentro” são pontos fracos de uma nação que “não está em paz”, nomeadamente pelos seguintes motivos: (i) alto índice geral de criminalidade; (ii) facilidade de acesso a armas de fogo; (iii) índices de homicídios e; (iv) percepção do fenômeno da criminalidade pela sociedade. A “Pax Brasileira” é muito mais verdadeira dos brasileiros com os outros, do que deles com eles mesmos...

Um comentário:

Carlos Timo Brito disse...

Receba os meus parabéns. Trata-se de excelente artigo: sóbrio, informativo, até mesmo instigante em determinados aspectos.